mxd
dkng
aa

views

14.7.14

Antes que seja tarde

Silêncio. Nenhum ruído, nenhum som. Ou talvez um barulhinho longínquo da rua. Janela aberta, noite fechada. E nos na cama. Cama vasta, enorme, gigantesca, ampla, longa, extensa. Não te ouvia, não te sentia, não sabia de ti. Adormecemos, cada um para seu lado, quase em camas distintas. Acordei cedo. Virei-me na cama, memorizei os teus traços e gravei-os no coração. Fechei os olhos, toquei-te o rosto. Ouvi-te dizer que éramos um erro, que devíamos seguir separadamente. Continuei a tocar o teu rosto de olhos fechados. As lágrimas acumulavam-se debaixo das pálpebras, e tu continuavas o teu discurso. Doía, doía tanto. Mas, de repente deixei de te ouvir.
Silêncio. Nenhum ruído, nenhum som. Ou talvez um barulhinho longínquo da rua. Janela aberta, tarde solitária. E eu de caneta na mão. Folha vazia, branca e por preencher. Já não sabia da tua voz, já não te podia sentir. Comecei a escrever. Escrevi sobre os teus sinais, sobre os teus olhos, sobre a tua pele. Escrevi sobre ti até a exaustão. Fechei os olhos. Ouvi uma voz. E num jeito curioso, olhei para o lado de lá da janela. Não eras tu. As lágrimas correram. Continuei a escrever, desta vez sobre mim.
Silencio. Nenhum ruído, nenhum som. Ou talvez um barulhinho como sempre, da rua. Fechei a janela, ainda era de manhã. E senti mais dores. Peguei na minha mala de viagem e deixei a nossa casa vazia. Já não me pertencias. Já não reconhecia a casa e muito menos a cidade. O silêncio reinou.
Silêncio. Nenhum ruído, nenhum som. Ou talvez um barulhinho, desta vez de chaves. Eras tu. Estavas de volta a casa. Abriste a porta e procuraste-me em todas as peças. Não estava. Olhaste em volta e viste as minhas folhas acumuladas na mesa da sala. Aproximaste-te e, primeiramente, leste a única carta inacabada.

Sábado 12 de julho. 


Perdi-te. Procurei-te em cada recanto da nossa história. Da nossa casa. 
Sempre que te afastavas, perdia uma parte de mim. Cheguei a perder tanto quanto tinha.

Perdi-me. Procurei maneira de te dizer. Oh, meu amor! 

Sempre te quis. Mas nunca tanto quanto hoje. Perdi tudo. 
Tenho que partir antes que regresses e me vejas partir feia e fraca.
Sempre tive esperança em nós. E lamento esta partida.
Mas, meu amor, estou doente. Aquelas dores eram avisos do colo do Útero.



3 comentários:

  1. Isto está divino. Essa dor que não passa... um dia tem que passar, nem que tenhamos de arrancar a força.
    Afasta-te desse silêncio!

    ResponderEliminar
  2. R: é linda, não é? Obrigada :3

    Este texto está muito forte. Senti um grande aperto.
    Beijinho *

    ResponderEliminar