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18.1.15

Ps: Amo-te tanto

Este é talvez dos textos mais difíceis que terei de escrever - disse ela com as lágrimas aos olhos. E, lentamente, dirigiu-se para a secretária com as pernas a tremer. Comparava-se tal situação a uma queda no abismo.

Mãe, não sei por onde começar. Não haverá inicio, meio ou fim perfeito para agradecer a pessoa que és. Sou parte de ti, vindo de ti. Sou a tua cria, a tua única filha. Tento ser tal como tu, perfeita. [Parou de escrever e chorou a noite inteira até a exaustão].

No dia a seguir, acordou com um cheiro amargo de vida. Era uma menina com a alma perdida. Com um coração destroçado pelo amor que lhe era imposto pelas leis da vida. "A vida é injusta para os bons" repetia enquanto negava o real mundo. Agarrava com raiva os lençóis, Colocava a almofada em frente à boca e gritava de desespero. Após libertar migalhas de dor, ganhava forças e arrastava o corpo para fora da cama. Esquecia-se dos cuidados básicos, o desconforto era demasiado grande. Apenas se lembrava de retomar o texto. Relia vezes sem conta as frases do dia anterior. Pensava em escrever mais e melhor. Então pegou na caneta e...

Desculpa Mãe, não tenho palavras maravilhosas e frases incríveis. Tenho apenas um sentimento único: Amor. Foste tu que me ensinaste a amar e a me sentir amada. Mais do que isso, foste tu que me mostraste o caminho e as suas pedras. De certa forma, foi contigo que aprendi a alcançar o melhor da vida, mesmo com algumas lutas barbaras pelo meio. Compreendi desde muito cedo que é preciso ser guerreira para poder sorrir. Entendi que as feridas são avisos e que os golpes mais profundos são lições de vida. Deduzi também que esta angustia infinita que percorre as minhas veias esta última semana é a consciência de que os heróis não são eternos. Tu és uma heroína. 

Mas, Mãe, não finges mais, sou menina dos teus olhos, pássaro que voou e cresceu. Hoje sou mulher e deixei de olhar apenas... agora vejo. Vejo-te fraca, doente e a representar uma vida eterna que não existe. Não fiques triste, Mãe. Acredita que preferia que tudo isto fosse mentira e que tivesse mais certezas em relação a tua presença daqui um ano. [Nesse momento, ela atirou a caneta, empurrou a secretária e a cadeira caiu. A porta marcou o ponto final naquela casa].

Na rua ela não passava despercebida, na verdade nunca conseguira o contrário: sempre vista como menina doce, calma e de uma beleza incomum. Naquele dia, era avistada pela mágoa. Caminhava sem destino, à procura de paz. Confusa com a montanha russa das emoções de menor entretimento. Entrou num café, sentou-se e tirou da mala uma caneta e um velho talão de compras. Vieram recolher o pedido: um simples café italiano. Escreveu poucas palavras no talão, arrumou a caneta e partiu. O "garçon" voltou com o café, incrédulo por não ver a cliente nem os seus pertences. Olhou para a mesa. Agarrou no papel onde leu: Este cancro não te vai destruir só a ti. Parte de mim... irá contigo.

1 comentário:

  1. Segui o blogue :)
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