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31.1.15

Na sombra do silêncio

Lembro-me da primeira vez que cheguei a esta cidade - disse ele. E continuou enquanto caminhávamos juntos na chuva: pensei, na altura, esta cidade é linda! Eu mantinha-me calada, sem qualquer expressão. Ele dava asas ao seu discurso: esta rotunda fez-me acreditar que eu iria ser livre e feliz. Respirou fundo e olhou para mim. Ficamos em silêncio, paramos de andar e senti os braços dele a abraçarem-me. Não tive forças para corresponder ao carinho, apenas sorri. Sabia que te tinha perdido no dia em que escolhi aquele amor. Aquele amor que durou muito, mas que não durou para sempre. Apetecia-me voltar atrás.
No ano em que vi aquela rotunda pela primeira vez, lembro-me de a ter contornado com um nó no estômago. Estavas sentado a minha espera do outro lado. Passamos a tarde juntos e depois de longas e boas horas, levaste-me a casa. Sempre cavalheiro, memorizaste a cor dos meus olhos, do meu cabelo, da minha roupa e o cheiro do meu perfume. Ligaste-me na manhã seguinte e senti-me amada como nunca. Infelizmente, preferi-o a ele. Se soubesses o quanto me arrependo. - Senti os teus braços a largarem-me e ouvi-te com uma voz doce a perguntar o que se passava. - Ri-me. Estava nervosa. Amei-te enquanto me iludia com ele, enquanto o beijava, o abraçava e o acariciava.
Perdia-me na sombra do silêncio e tu continuavas a espera duma resposta. Olhei para ti e sabia que esse olhar de veludo não era meu. E comecei: Tu ainda estás com ela? No fundo, sabia a resposta. Sabia que já havia outra pessoa e não era ela. Engoli a seco as tuas palavras, ri-me novamente e brinquei como faço habitualmente quando fico sem jeito. Escondi-me no barulho da cidade e pedi-te para me acompanhares até ao café. Fomos e conversámos sobre ele. Sobre o bem e o mal que ele me tinha dado. Descobri o quanto era infeliz ao dizer aquilo. Gastei o meu tempo numa experiência, naquelas ilusões.
Na hora da partida, senti um aperto bom. Entendi que te tinha bem mais perto que antes. Despedi-me de ti e fui direta para aquela rotunda. Sentei-me no banco molhado e olhei a volta. Que cidade linda! Sentia-me livre e feliz nesta sombra de silêncio. Silêncio amoroso. 

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